Ventos de Leste
O Polaco realizou uma corrida tacticamente impecável.Controlou o esforço na primeira parte da prova, não se deixou assustar quando os africanos descolaram nos primeiros 15 quilómetros, iniciou a colagem no ponto mais difícil, o alto da ponte, fustigado por ventos fortes, e deu a machadada final a três quilómetros da meta. Simplesmente arrebatador!
A selecção de valores começou a fazer-se logo nos primeiros três mil metros: os atletas asiáticos, liderados pelo chinês Woing Qian, pelo norte-coreano Ri Goyong Chol e pelo sul-coreano Song Do Young optaram por sair rápido tomando a cabeca da corrida. Na entrada para a ponte da Amizade, na vinda para Macau, o polaco Dobrzynski, o zimbabueano Kasirai Sita (vencedor o ano passado) e o português António Sousa colaram-se ao trio asiático que seguia na liderança. E seguidos de muito perto de mais três representantes da República Popular da China - sempre muito aplaudidos e incentivados por algum público que se ia acercando das áreas da corrida - e da Coreia do Norte. A meio da ponte, Wilson Chepkwony, Miamo Mbogo e, sobretudo, Benjamim Matolo (vencedor em 2001e 2° o ano passado) tiveram que dispender energias suplemantares para recuperarem o terreno que tinham perdido logo na largada. O motivo deste atraso: a má colocação no momento da partida. O trio de africanos tentou capitalizar ao máximo o aquecimento no período entre a chamada final, às 6:30 e o momento do claxon de partida. Quando se dirigiram para a zona de largada, cerca de minuto e meio antes do início, a pista estava ocupada por centenas de outros atletas, na sua maioria os da Meia-Maratona, o que levou Chepkkwony, Mbogo e Matolo a terem que que se posicionar muito atrás. Dada a partida os africanos tiveram que manobrar pelo trânsito compacto, o que os levou a perder algum tempo e acabarem por se percepitar e dispender energias que faltaram mais tarde na parte decisiva. Na ânsia de não deixarem fugir os homens que seguiam na frente Wilson Chepkwony e Matolo imprimiram um ritmo alucinante conseguindo mesmo passar para o comando da prova. Dobrzynski deixou-se ficar no seu ritmo, Kasirai manteve o andamento rápido seguindo então no encalce do queniano Chepkwony que à chegada à Torre, aos 10 Km tinha passado para o primeiro lugar. Um grupo de cinco atletas seguia então no encalço dos dois primeiros, cerca de 150 metros mais atrás. Nele se incluiam Matolo, o polaco Dobrzynski, o chinês Wong Qian e o coreano Ri Chol. António Sousa que até a meio da Ponte da Amizade, na vinda para Macau, tinha conseguido proteger-se bem do vento seguindo integrado no pelotão da frente acabou por perder quase 50 metros até à passagem pela estátua da Deusa Kun Ian, mais meia centena de metros até à Torre, e já levava quase meio quilómetro de atraso para os da frente quando os líderes reentraram na Ponte de Amizade para o precurso de regresso à Taipa. A partir daí e até ao final, Sousa limitou-se a gerir as poucas energias que lhe sobravam até cortar a linha de meta na 12a posição com um tempo modesto de 2:21:12, muito longe da sua melhor marca de 2 horas e 13 minutos.
Lesto a Leste
A primeira hora da verdade coincidiu com a passagem dos atletas da frente pela marca da meia-maratona. Chepkwoni continuava líder mas começava a dar sinais de que poderia vir a pagar caro o esforço e as energias que dispendeu quando fez três quilómetros loucos no início da maratona para se chegar aos da frente depois dos precalços, das incidiências,e dos atrasos no momento da largada. O queniano passava à frente na marca da meia-maratona, no regreso à Taipa, na Ponte da Amizade mas o polaco Dobrzynski tinha defintivamente acelerado o passo nos últimos cinco quilómetros e já estáva colado ao zimbabueano Kasirai Sita. O vento soparava muito forte, sobretudo nos pontos altos da ponte, mas o polaco parecia o menos afectado pelas rajadas. Três quilómetros mais à frente, na rotunda do aeroporto, Dobrzynski já era segundo e tinha reduzido para cerca de 30 metros a distância para o líder, que continuava a ser o queniano Chepkwpony. Kasirai Sita, apesar de ultrapassado por Dobrzynski, manteve o seu ritmo e podia controlar no seu campo visual os homens que seguiam imediatamente à sua frente. A selecção de valores final parecia estar definitivamente feita porque os 4° e 5°, o norte-coreano Ri Gyong Chol e o chinês Wong Qian, tinham perdido praticamente 750 metros - a maior diferença até aí registada - para o trio da frente. Mas quando a corrida parecia caminhar para um final emocionante a três, Kasirai Sita viu esfumarem-se as hipóteses de lutar pelo segundo triunfo consecutivo em Macau. O zimbabueano resentiu-se de uma lesão nos adutores da perna esquerda (sofrida há cerca de três meses em Sevilha e que se pensava já completamente debelada) e perdeu por completo o contacto com os homens da frente e tendo mesmo parado cerca de 45 segundos e pensado em desistir. Uns metros mais à frente, na primeira passagem pelo posto fronteiriço do COTAI Dobrzynski conseguiu finalmente colar-se ao queniano Chepkwoni na cabeça da corrida. A luta ficava reduzida agora a dois e o polaco que vinha nitidamente mais rápido deu a sapatada final entre a segunda e a terceira rotunda do istmo a três quilómetros da linha de meta. Chepkwoni não teve forças para responder, olhou para trás para controlar eventuais ataques dos perseguidores mas Kisarai Sita, diminuido fisicamente, também já não tinha argumentos para encetar um ataque tendo antes que tentar conservar o último lugar do pódio de uma ponta final mais forte do coreano Ru Gyong Chol, que no entanto não chegou a ser concretizada. Adam Dobrzynski fez os últimos dois quilómetros a um ritmo suficiente para aumentar a vantagem sobre Chepkwony para mais de um minuto. O polaco foi cronometrado em 2:16:30, o quinto tempo mais rápido das 23 edições da Maratona Internacional de Macau e ficando a 1 minuto e 9 segundos do recorde que continua pertença do norte-coreano Kim Jung Won (2:15:21). Técnico e atleta acreditam que se não fosse o forte vento que se fez sentir durante quase toda a prova o recorde teria sido batido por uma margem confortável. O queniano Wilson Chepkwony cortou a meta no segundo lugar com um registo de 2:17:34, e o zimbabueano Kasirai Sita terminou no último lugar do pódio em 2:19:14, juntando a medalha de bronze desta edição ao ouro conquistado no ano passado.
Chinesas dominam sector feminino
Wong Qian terminou a Maratona masculina no quinto lugar com um registo de 2:22:08 e foi o melhor atleta chinês. O compatriota Zhang Jingbo conseguiu terminar no top 10 - foi precisamente décimo - com 2:28:03. Se a prestação dois dois maratonistas chineses não deslustrou, a verdade é que foram as senhoras do continente quem deram as maiores alegrias às centenas de populares que acorreram à zona da chegada para aplaudir as suas heroínas. As fundistas chinesas pulverizaram o pódio tanto na Maratona como na Meia-Maratona. Na corrida principal a vitória foi para Tain In In, em 2:37:27 que é o segundo tempo mais rápido das 23 edições, só ultrapassado por aquele que contínua a ser o recorde da prova, conseguido em 1999 pela norte-coreana Kum Chang Ok (2:34:57). A compatriota Pu Zhen chegou em segundo com mais de dois minutos de atraso, 2:39:46, e o terceiro lugar foi conquistado pela norte-coreana Hang Hyon Ok com um registo de 2:40:57. Ouro também para uma atleta da RPC na Meia-Maratona. Honras para Gao Hui Mei em 1:27:15. A Meia-Maratona masculina foi ganha pelo atleta de Hong Kong Ng Yan Hi e um homem da casa, Kwok Chi Wai recuperou para a RAEM o terceiro lugar do pódio, o que já não acontecia há cinco anos mas ficando a apenas sete segundos do segundo lugar de Lai Hok Yan atleta da região vizinha Lok Wai Kin, em homens, e Leong Lai Heong, sem senhoras, foram os melhores atletas de Macau na Maratona Internacional.